The Revolutionary Association of the Women of Afghanistan (RAWA)
RAWA


 

 

Esquerda.net, October 17, 2010

Nato fora do Afeganistão

No encerramento da Conferência Nato para quê?, Mariam Rawi, activista da associação revolucionária de mulheres afegãs, e o Bloco de Esquerda defendem retirada imediata da NATO do Afeganistão

A Conferência Internacional Nato para quê? Encerrou este domingo à tarde os seus trabalhos com as intervenções de Miguel Portas, Francisco Louçã e Mariam Rawi, activista da Rawa, associação revolucionária de mulheres afegãs, que se dedica à luta pelos direitos das mulheres no Afeganistão e pelo fim da ocupação das forças estrangeiras.

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Sessão de encerramento da Conferência Internacional "Nato para quê?" - Foto de Paulete Matos

A activista afegã deixou o testemunho daquela que tem sido a dramática realidade vivida pelas mulheres, e pelo povo afegão em geral, durante os últimos nove anos de ocupação das forças internacionais, leia-se Estados Unidos da América e seus aliados.

Mariam Rawi defendeu que os países que estão envolvidos nas operações em território afegão não pretendem a democratização do país, e que um governo após ocupação será, na realidade, um governo “marioneta”, que irá assegurar os objectivos económicos e militares dos EUA, nomeadamente a utilização do Afeganistão como base militar.

Segundo relatos da representante da Rawa, o Afeganistão está mergulhado num clima de violência permanente. Proliferam os assassinatos, as violações, e são cada vez mais comuns os ataques a civis por parte da NATO.

A par do elevado nível de insegurança, o Afeganistão regista uma elevada taxa de desemprego e grande parte das crianças não tem, sequer, acesso à escola. A taxa de mortalidade infantil é a maior do mundo. 37 crianças morrem em cada hora. As imolações de mulheres que não têm qualquer outra forma de reivindicar os seus direitos é uma realidade.

A guerra só está a trazer mais pobreza e “infortúnio ao nosso povo”, afirmou Mariam, enquanto o Afeganistão continua a produzir a maior quantidade de ópio do mundo.

Segundo Mariam Rawi, os fundamentalistas actualmente no poder, e que usufruem do apoio da NATO, não são melhores que os talibãs, sendo que estes últimos continuam a ser financiados através da contratação de empresas de segurança para garantir o patrulhamento do país. As forças policiais oficiais estão, inclusive, muitas vezes envolvidas nas agressões contra o povo afegão e os senhores da guerra vivem em grandes palácios, ao passo que a população vive na miséria.

A eleição do actual presidente afegão, Hamid Karzai, ocorreu de forma manifestamente irregular. As eleições foram muito pouco participadas (40%) e registaram-se inúmeras queixas de irregularidades. A activista denunciou ainda que se mantêm pagamentos secretos da CIA ao governo de Karsai para a partilha de informações.

A organização Rawa apela às diferentes representações mundiais para que ponham fim à tragédia vivida pelo povo afegão e à “nova era de cativeiro” em que se encontram as mulheres afegãs. As reivindicações desta associação passam pela saída imediata de todas as forças estrangeiras presentes no país e o julgamento, em tribunal internacional, de todos os criminosos de guerra.

Mobilização para a Contra-Cimeira

O coordenador da comissão política do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, partilha da reivindicação da representante da Rawa: é imperativa a saída das tropas da NATO do Afeganistão.

O Bloco não aceita que os portugueses sejam um pilar do governo narco-traficante do Afeganistão, e que sejam o garante dos interesses económicos e militares dos EUA, assim como não aceita o desrespeito pelos direitos dos afegãos.

A participação na contra-cimeira será, nesse sentido, segundo Francisco Louçã, fundamental para a luta contra a guerra, a favor da paz e a favor da autodeterminação dos povos.

O novo papel da Nato

Miguel Portas teceu, na sua intervenção, alguns comentários sobre o que está em causa na próxima cimeira na Nato. O euro deputado esclareceu que o que está em discussão é o alargamento do espaço de intervenção da NATO, que já se vem a concretizar desde a queda do muro de Berlim. O que se pretende é confirmar a presença extra ocidental da agência – aprofundar a sua posição de polícia do mundo.

Para os EUA, o objectivo é manter a hegemonia política da decisão, mas assegurar a repartição dos custos decorrentes da guerra permanente. Para a UE, a finalidade é aumentar o seu peso político na NATO, mas com o menor custo possível, já que as medidas de austeridades entram em contradição com os custos militares.

Miguel Portas alertou também para o facto de a indústria norte americana estar com um “problema de falta de guerras”, sendo que a escolha mais provável para os EUA será o Irão, para onde estão, neste momento, “virados todos os holofotes”.

A escolha do Irão prende-se com a sua localização estratégica e com as suas reservas de petróleo.

A polémica em torno do programa nuclear do Irão tem sido utilizada para sustentar esta decisão. Para o euro deputado do Bloco, a solução para esta problemática deve passar por um processo de negociação, durante o qual deve ser reconhecido o direito do Irão, previsto na lei internacional, a desenvolver o seu programa nuclear - que o governo iraniano afirma ter fins exclusivamente civis - mas exigir a suspensão do processo de enriquecimento de urânio enquanto durarem as negociações.

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